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Por Maria Iannarelli
O Brasil, pelas suas características regionais e a diversidade de condições sociais e econômicas, apresenta várias formas de envelhecimento. Porém, o que é inegável é que a população está envelhecendo de forma acelerada.
O Censo de 2010, analisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, aponta para uma alteração na pirâmide etária, com redução nas faixas etárias menores e aumento das faixas etárias acima de 60 anos de idade. Nesta avaliação, o Censo de 2010 foi considerado como a Revolução da Longevidade. Com 200 milhões de habitantes, o retrato foi de um país menos branco, mais velho, mais feminino; com 96 homens para 100 mulheres e, dado importante para a organização de políticas públicas, com 84% da população residindo em área urbana. Quanto à expectativa de vida: em 1950 – 48 anos; 2000 – 68 anos; 2050 – 78 anos.
Ainda considerando o Censo de 2010, a projeção de pessoas idosas para 2025 seria de 32 milhões.
Porém, dados do IBGE de 2019 indicaram que o número de idosos no Brasil chegou a 32,9 milhões de pessoas. Vamos acrescentar a questão atual, que envolve os efeitos da pandemia da Covid-19 e o impacto nos dados sobre o tema Envelhecimento.
Em um webinar promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA em junho de 2021, a pesquisadora Ana Amélia Camarano traz a reflexão sobre o tema “Novo Regime Demográfico: o que muda com a pandemia?”, chamando a atenção para alguns paradigmas que devem ser observados na atual situação do país. Dentre eles, citamos que em junho de 2021, devido à pandemia, 70,3% do total de número de mortos por Covid-19 eram idosos, sendo que desse total 58,6% eram homens. Acrescenta ainda que a morte de um idoso traz outras consequências, como a redução na renda mensal familiar.
Diante da complexidade trazida pela pandemia da covid-19, muitas perguntas ainda serão feitas e novas respostas poderão surgir.
Encontramos, entre as principais demandas, o olhar da Assistência Social e as políticas públicas para a pessoa idosa.
O Sistema Único da Assistência Social – SUAS aponta o lugar do idoso de acordo com o grau de complexidade que as situações exigem, sempre direcionadas pelas normativas e tipificações definidas em lei.
Pela complexidade do tema, o profissional pode ficar confuso em relação ao que se espera dele ao acompanhar uma pessoa idosa nesta rede de proteção.
Quando a prática profissional é um desafio, nada melhor do que conhecer o cenário onde ela vai acontecer. A seguir abordo alguns aspectos que, na minha prática profissional, precisei conhecer para ficar mais alinhada com a realidade e mais assertiva e eficaz nos resultados esperados.
REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PROFISSIONAL E A ATUAÇÃO NO SUAS COM A PESSOA IDOSA
Cada vez mais interessa ao profissional procurar respostas para as questões que possam enriquecer a rotina do dia a dia. Trago reflexões que nortearam muito minha trajetória profissional, procurando dar um significado para a minha prática e participação na implantação de políticas públicas para pessoas idosas.
O QUE É ESSENCIAL CONHECER?
1 – ONDE ESTOU? PARA ONDE VOU?
O primeiro passo foi compreender que a DIVERSIDADE de eventos que permeiam a atuação no SUAS com a pessoa idosa e as diferentes realidades faz a diferença. O contexto social, cultural e econômico impacta na atenção e no cuidado. Porém, quando se trata da pessoa idosa, outros aspectos relevantes precisam ser conhecidos. O Cuidado tem várias facetas, e a fragilidade e a vulnerabilidade não são necessariamente (e apenas) econômicas.
As aparências podem enganar quando falamos do cuidado eficaz e de diversos tipos de violência vivenciados por esse segmento.
Não importa se falamos de Estados do país ou regiões de uma mesma cidade. A diversidade de serviços implantados também é enorme.
Em algumas regiões, muitos serviços previstos no SUAS ainda não foram implantados ou existem em quantidade aquém da necessidade existente.
Por exemplo: ao atuar em uma região com rede de proteção social e de saúde maiores, minha atuação se desenvolve de forma mais horizontal e dinâmica, como facilitadora de ações inclusivas. E podemos falar de um mesmo tipo de serviço em bairros diferentes de uma mesma cidade.
Isso me levou ao seguinte conceito:
2 – Trabalhando no TERRITÓRIO
Como em toda prática profissional, quanto mais conheço a realidade onde atuo, melhor será.
O território compreende a área de abrangência onde atuarei, a rede de serviços, a rede comunitária e o perfil da população idosa a ser atendida.
O território precisa ser meu parceiro; e eu, pertencer a ele.
Isto só acontece se me for familiar. Passa pelo olhar comunitário, ou seja, a comum unidade – onde me vejo neste cenário.
Cada vez mais os serviços interligados em rede exigem profissionais que façam parte, deixando o protagonismo e a autonomia dos atores sociais preservados.
O que leva a outra questão básica:
3 – QUEM SÃO OS ATORES SOCIAIS?
Os atores sociais são os usuários dos serviços, os profissionais que compõem a equipe interdisciplinar onde atuo, os profissionais de várias categorias hierárquicas que participam da atenção e cuidado.
Os atores sociais são também as lideranças comunitárias, a própria comunidade que constitui a rede de apoio do usuário e a família, ou seja, muita gente participa desta rede.
Leia também: Como o SUAS se insere no Modelo de Proteção Social Brasileiro?
4 – E COMO FICA A FAMÍLIA?
Este tema traz muita polêmica para o profissional. Todos temos um modelo de família incorporado à nossa vida, pela nossa própria vivência. Ao refletir sobre a nossa atuação no SUAS com a pessoa idosa, muitos mitos e preconceitos podem vir à tona.
É essencial desvestir o conceito de família ideal para o conceito de “família possível”.
Isso muda toda nossa visão sobre o tema, que permeará toda nossa prática.
Será necessário sair do lugar de juiz de histórias vividas.
Mas … isso é um tema para aprofundarmos em outro momento, pela complexidade e importância da reflexão.
Falando em complexidade, outra questão precisa ser observada:
5 – CONHEÇO O TEMA ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL?
Para o profissional e sua atuação no SUAS com a pessoa idosa, torna-se condição básica ter o conhecimento, conceitos sobre o tema para tornar minhas ações eficazes.
E se nunca atuei nessa área, como fica?
A busca de conhecimento passa pelas diversas leituras e informações que hoje a tecnologia nos possibilita. Não preciso, necessariamente, ter experiência para conhecer um tema de interesse.
Lembre-se: você constrói a sua base de saber. O tema Envelhecimento está disponível e é pauta constante na nossa sociedade.
O Estatuto do Idoso, por exemplo, tem uma história e conteúdo muito importantes para alavancar a garantia de direitos e sua consequente utilização na rede de cuidados.
A articulação eficaz passa por conhecimento básico das ferramentas legais de gestão já existentes no SUAS.
Como você responderia a essas questões?
O que é senescência /senilidade; o que é autonomia/ independência; como o SUAS garante direitos das pessoas idosas; quais graus de complexidade e serviços o SUAS contempla a pessoa idosa? A família contemporânea está preparada para o aumento da longevidade? Como vejo a pessoa idosa: o bom “velhinho”/”velhinha”? O que são os mitos e preconceitos do envelhecimento? E por fim, todos envelhecem da mesma forma? Como será o seu envelhecimento?
Leia também: Estatuto do Idoso: marco para os direitos da pessoa idosa
Atividades do SCFV para idosos
CONCLUSÃO
Nas cinco questões levantadas, procuramos trazer para nossa realidade reflexões para facilitar a prática profissional sobre o processo de envelhecimento no Brasil e as formas de inclusão nesta nova realidade.
Fica como sugestão aprofundarmos os temas trazidos nesta abordagem e construirmos pontes de conhecimento para uma boa prática com pessoas idosas. O que você acha? Afinal, a atuação no SUAS com a pessoa idosa é um tema amplo e aberto para a procura de alternativas positivas para o bem viver.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMANN, Zygmunt. Comunidade – a busca por segurança no mundo atual. Zahar; 2ª edição, 2020