3 dicas para um planejamento de sucesso

3 dicas para um planejamento de sucesso

Tempo de leitura: 10 minutos

Um dos maiores desafios para profissionais da assistência social é dar materialidade para o subjetivo.

Em quantos graus os vínculos familiares e comunitários foram fortalecidos após seis meses de trabalho do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos? Ou quantas famílias acompanhadas pelo CREAS não mais sofrerão violências? Quantos adolescentes deixaram de ser vítimas de homicídios após intervenções das equipes técnicas?

Estas perguntas beiram à impossibilidade de serem respondidas, mas rodeiam o cotidiano dos profissionais que trabalham prioritariamente para o enfrentamento das vulnerabilidades e riscos sociais que as fomentam.

Nesse contexto, a Vigilância Socioassistencial, uma das funções da Política de Assistência Social, tem o objetivo de dar visibilidade e contexto para as ocorrências no território de vulnerabilidades e riscos sociais. Cumprir este objetivo pressupõe conhecimento.

A construção de conhecimento aplicável às intervenções das equipes dos serviços da Assistência Social é sistematizada em modelo de planejamento, seja ele para qualquer período de tempo. A este planejamento dá-se a validade do processo de trabalho focado na mensuração dos resultados e indicadores.

Este texto busca explorar algumas bases mínimas para a construção de um planejamento e ação pautadas em conhecimento.

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Conhecer

Como ponto de partida para qualquer ação ou planejamento, conhecer a realidade é fundamental. Conhecimento é fruto de um relacionamento com informações.

Para se chegar ao entendimento inicial do conceito de conhecimento a ser explorado no texto, precisamos ir na sua raiz principal, o DADO. Dados nada mais são que informações não tratadas. Números, índices, medidas, valores, significados de forma isolada não carregam nenhuma análise ou mensagem em si mesmos.

O tratamento adequado de um conjunto de dados, o seu processamento e comparação (além de outros procedimentos) permite a transformação dos dados em informação. Esta já expressando mensagem e significado ao receptor permite a este um desenvolvimento de conhecimento a partir do que se pode abstrair do processo de transformação de dados para informação.

Em termos mais sucintos, conhecimento é o produto de experiência e vivência na interpretação de informações. Conhecimento é a base para se criar metas e estratégias de trabalho em um planejamento.

Mas conhecer a realidade, como falado, é apenas o primeiro passo, e, apenas entender seu processo de produção parece ser incompleto para a pretensão deste texto. Assim, é interessante dar alguns passos tangíveis para que você possa trabalhar com sua equipe e obter conhecimento da realidade.

1. Defina o objeto a ser estudado e as fontes de dados

Como o texto é voltado para profissionais da Política de Assistência Social, é interessante já se ter a realidade desta política no nível de atuação em que ela está sendo desenvolvida. Mantando assim como objeto de estudo primeiro para construção do conhecimento.

O levantamento de dados pode ser obtido por diversas fontes. Fontes oficiais do governo, pesquisas de domínio público, como o Atlas da Violência ou outros indicadores sociais. Considerando neste primeiro ponto um levantamento quantitativo de dados.

Números interessantes a serem estudados dizem respeito à quantidade de pessoas atendidas por cada unidade, ou quantas interações e quais seus tipos foram desenvolvidas junto a rede de trabalho. Quais os principais tipos de atendimentos desenvolvidos pelas equipes e quais os recursos materiais disponíveis para o desenvolvimento do trabalho também se mostram como prioridades para se tentar entender a realidade.

Para além do levantamento numérico, uma análise qualitativa destes dados permite ao gestor estruturar melhor o conhecimento a ser obtido. Obter impressões das equipes sobre as situações cotidianas, ouvir usuários a respeito do trabalho desenvolvido, ou até mesmo tentar obter fontes externas de informações qualitativas podem auxiliá-lo no processo.

Tão importante quanto saber o que se precisa conhecer é a fonte de onde se pode prover as informações sobre este “o que”. Mas como dito, é apenas o primeiro passo.


Leia também: Diagnóstico Socioterritorial: qualificando o trabalho da Assistência Social

2. Elabore instrumentos de análise qualitativa

Quão grande desafio é ser objetivo quando se trata do levantamento de informações. Ao pesquisar todas as possibilidades de fonte de dados você perceberá que manter o foco será uma tarefa que exigirá esforço. É como pensar em uma refeição. Não adianta usar mais ingredientes do que você será capaz de comer, apesar de tudo ser apetitoso. Você precisa definir quais as fontes são mais apropriadas para você e quais podem te trazer maior eficiência para a análise.

Neste desafio, a construção de instrumentos de coleta de dados também se equipara. Uma sugestão é um questionário simples, entre cinco a dez perguntas claras, que permitirão às equipes explorar suas impressões sobre diversas situações. Aqui, avaliando sempre impactos positivos e desafios identificados ao longo do período analisado.

3. Compare os resultados

Ao se ter o retorno das informações geradas pelas equipes, compare-as com os números das fontes de informações que definiu. Observe a evolução dos números de atendimento mensais enquanto lê a avaliação dos profissionais sobre a situação dos acompanhamentos. Veja o que dizem sobre os desafios da articulação com a rede enquanto percebe o número de ações desenvolvidas.

Compare os resultados, cheque, veja o que os números lhe trazem e o que as equipes lhe dizem. Produza à partir daí um produto final, aplicado com o levantamento de informações que você obteve e começar a produzir então conhecimento. Pronto! Está aí um olhar para a sua realidade e a base inicial para o seu planejamento

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Construir o planejamento

Tendo em mãos o produto final do levantamento de informações, é importante também trazer este retorno às pessoas envolvidas. Construir o planejamento é uma tarefa coletiva, mesmo que sua sistematização possa ser individualizada.

Ao apresentar os resultados, observe as reações e os feedbacks que lhe são trazidos. Converse, dialogue sobre o que se obteve e neste mesmo momento apresente os principais desafios identificados tanto pelos textos qualitativos, quanto pelos números.

Este é o momento inicial de um planejamento sólido, a identificação dos desafios. O fruto deste trabalho inicial está em identificar as frentes de trabalho e mensurar as ações que lhe serão exigidas. Para isso, é importante, mas não obrigatório, a construção de um instrumento formal de sistematização destas ideias.

Existem diversos modelos de planejamento que podem ser encontrados na internet, aqui, neste texto, disponibilizamos um de acordo com as ideias trazidas.

1. Qual a situação?

Este primeiro tópico já foi identificado durante o processo de conhecer a realidade. Porém, é possível que seja levantada uma lista grande de situações desafiadoras e, algumas destas, podem ser até impraticáveis de se pensar no momento. O ponto chave aqui é selecionar bem as situações que serão possíveis de serem trabalhadas.

2. O que fazer?

Neste momento se descreve a ação. Normalmente o texto começa sempre por um verbo, é uma forma de deixar o texto claro. Definida como um verbo, qualquer pessoa que ler as ações descritas neste tópico entenderão claramente qual a ideia básica para se trabalhar e superar a situação identificada.

Algumas situações vão exigir mais de uma ação, então sempre enumere suas ações para poder relacioná-las aos outros itens do planejamento.

3. Como fazer?

Descrição detalhada da ação é a base deste campo. Jogar todas as ideias e pensar alto aqui é como se sentir em casa. Precisa-se, no entanto, clarear os pontos chaves do desenvolvimento de cada uma das ações como se será em algum lugar específico, qual a metodologia que se usará, como envolverá as pessoas no processo, entre outras questões.

4. Quando fazer?

Prazo é essencial, porém este campo não é apenas para isto. Trata-se de organizar as ideias e verificar a viabilidade delas dentro de um tempo razoável de execução. As equipes poderão aqui refletir se terão ou não condições de executar a proposta e se elas não estão se sobrepondo.

5. Quem será responsável?

Aquilo que é de todos acaba não sendo de ninguém, é o que se diz por aí. Nomear um responsável por cada ação não exclui as outras pessoas envolvidas do processo. Antes, outorga a alguém a autoridade para dar andamentos na situação e funcionar como um filtro para a qualidade do que se está construindo. Alguém para se reportar e para se cobrar.

6. Quanto vai custar?

Pensar apenas na questão financeira é limitar muito este campo. Aqui se registra os custos gerais envolvidos no processo, até para permitir a equipe avaliar as ações pensadas. Custos podem impactar em números como por exemplo a redução de números de atendimentos individualizados devido o investimento em ações coletivas e de caráter comunitário.

7. Quem mais para se envolver?

Levantar as parcerias possíveis para cada ação, lembrar-se das famílias e indivíduos atendidos, bem como de toda a rede comunitária e social que dia a dia circulam pelo serviço é o foco deste campo. Também é possível prever novas parcerias a serem estabelecidas a partir de um objetivo comum, e o trabalho necessário para seu estabelecimento.

Dialogar

Um planejamento, por melhor que seja a sua construção, nunca pode ser um instrumento fechado, ele precisa estar sempre aberto à imprevistos e ao fluxo do trabalho. Para isso, é necessário manter aberto canais de comunicação fluida entre os envolvidos no trabalho, principalmente dos que estão em cargos de gestão e coordenação.

O diálogo é uma ferramenta essencial para isso. Reuniões periódicas de avaliação do planejamento, bem como ao fim de cada ação executada, permitirão aos envolvidos uma balança para o conhecimento produzido e os resultados esperados.

À medida que se vai avaliando os processos, as adequações necessárias vão surgindo e readequados são os planejamentos. Neste processo orgânico podemos então ver se materializar o conhecimento da realidade, uma vez aplicadas as ações planejadas e observados seus impactos, os envolvidos podem já medir ganhos ou perdas. Com essas medições em mãos, podem assim manter um foco naquilo que é construtivo e que lhes direcionará ao alcance dos objetivos do trabalho.

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