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Nossas histórias de vida e carreira no Sistema Único de Saúde (SUS) nos oportunizaram o acúmulo de experiências que nos fascinam e que conferem sentido crescente à nossa existência. Isto ocorre por nos permitirmos viver situações que nos desafiam diariamente. Esta é a verdadeira razão pela nossa jornada empreendedora, que nos entusiasma e nos impulsiona para a transformação do jeito de fazer Saúde no Brasil..
O debate sobre o conceito das Redes de Atenção à Saúde e a intersetorialidade no Brasil é atual e extremamente necessário. Trata-se de uma proposta historicamente recente cujas experiências ainda sentem falta de gestores e profissionais antenados com a necessidade de um olhar mais ampliado para a produção do cuidado e de diálogo. Sim, muito diálogo ainda se faz fundamental.
Imaginar setores como a Saúde e a Assistência Social se articulando e se integrando pouco nos governos em favor do fortalecimento desta rede de cuidado e proteção às pessoas seria o mesmo que imaginar uma fábrica de uma famosa empresa automobilística construindo carros chiques e super potentes sem seus elementos básicos como as rodas e os pneus.
Quando diante do cenário da vida em meio a uma situação de alguém que experimentou as drogas em meio a tristeza pela perda de um emprego e que acabou ignorado e desamparado por sua família, por exemplo, é comum ainda observar experiências em que o ser humano acaba por ser literalmente largado ao relento ou mesmo fragmentado em pedaços num lógica médico-centrada que o força a viver um tour praticamente épico, extremamente caro pra gestão dos serviços e desgastante em busca de medidas para atenuar sua situação.
Recentemente aliás, testemunhamos um episódio em que um gestor de um Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) reclamava dos profissionais das equipes de Saúde da Família que, mesmo com Agentes Comunitários de Saúde percorrendo diariamente seus territórios de abrangência, não foram capazes de identificar um vulnerável em situação de rua, cuja situação só foi constatada por meio de uma denúncia de um anônimo do município.
Tais evidências são repercussão de uma espécie de “ebulição social” deste momento inequivocamente. Que não diz respeito a uma suposta “crise” ou conjuntura atual, mas de um problema que é de caráter estrutural mesmo e que passa pela pobre compreensão de proximidade entre as áreas da Saúde e Assistência Social, pensando juntas suas ações por meio de uma agenda e articulando-se de forma integrada em favor da recriação das circunstâncias que afetam as pessoas neste instante.
Precisamos pensar em compromissos que nos elevem para a revisão deste modos de fazer dos governos que parecem repletos de dificuldades e desculpas que acabam por submeter as pessoas a situações que não são mais concebidas em meio aos desafios que a sociedade da informação nos submete. A iniciativa de ações como a do empreendedorismo social voltado para os governos lança sementes para este “novo tempo” nesta composição. Dialoga com a união de esforços necessária ao enfrentamento de situações cuja própria sociedade é convidada a participar desta arena de debates sobre as coisas e desafios que o mundo atual tem nos apresentado.
Faz-se necessário um olhar ampliado da gestão da Saúde e da Assistência Social dos governos para o presente instante que demanda cuidado e mais cuidado com as pessoas e suas relações com as coisas do mundo da vida e seus contextos. Olhar ampliado para as abordagens dos profissionais e apropriações das questões que afligem e que exigem articulação e integração intersetorial. Olhar ampliado dos governos para a geração de condições e o desenvolvimento de potentes parcerias com gente distinta que empreende socialmente em favor da transformação desse jeito de fazer. Isso se faz oportuno, necessário e urgente.
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