Encontros do SCFV? Sabia como estruturar!

Tempo de leitura: 6 minutos

Por Eugene Francklin

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) é uma das principais estratégias da Proteção Social Básica (PSB) no SUAS. Mais do que oficinas ou atividades recreativas, o SCFV é um espaço de construção de vínculos, promoção de direitos e fortalecimento do sentimento de pertencimento dos usuários em seus territórios.

Se você está atuando na gestão ou na execução do serviço, saiba que o planejamento dos encontros precisa considerar princípios técnicos, pedagógicos e eixos norteadores, bem como deve estar profundamente articulado com os objetivos do PAIF e do SUAS como um todo.

Neste texto, reunimos orientações práticas e conceituais para te ajudar a estruturar os encontros do SCFV de forma eficiente, potente e transformadora.

Os três eixos norteadores do SCFV

Antes de falar de como organizar o SCFV, vamos falar dos eixos que norteiam o serviço.
Todo o planejamento do SCFV deve ser guiado por três eixos fundamentais, que são:

1. Convivência Social:

Este eixo visa fortalecer as relações familiares e comunitárias, promovendo o sentimento de pertencimento. As atividades buscam estimular o convívio social e familiar, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de relações de afeto, solidariedade e respeito.

 2. Participação Social

O objetivo deste eixo é estimular a participação dos usuários em espaços de controle social, atuando como sujeitos de direitos e deveres na família e comunidade. As ações buscam garantir que os usuários tenham voz e vez, participando ativamente das decisões e processos que os envolvem.

3. Direito de Ser

Refere-se à construção da identidade, da autonomia, da autoestima e do reconhecimento do sujeito como portador de direitos. Aqui se trabalha o desenvolvimento pessoal, o empoderamento e a valorização das diversidades.

Esses eixos servem como bússola: ajudam a equipe a não cair em atividades desconectadas, recreativas ou improvisadas, sem vínculo com o objetivo central do SCFV, que é prevenir situações de risco e fortalecer vínculos sociais por meio da convivência e da cidadania.

Eles não devem ser tratados de forma isolada: o ideal é que estejam sempre interligados na construção de oficinas, rodas de conversa, dinâmicas e demais ações.

Quais as etapas para estruturar os encontros do SCFV?

Os encontros do SCFV devem ser estruturados de forma a promover a convivência social, o exercício de direitos e a participação social dos usuários, através de atividades planejadas e realizadas em grupos. A organização dos encontros deve considerar o ciclo de vida dos participantes, suas potencialidades, vulnerabilidades e os riscos sociais do território.A partir desse entendimento, a estruturação do encontros do SCFV conta com algumas etapas:

  1. Plano de Ação do SCFV

Para ser bem executado, o SCFV precisa de um planejamento sistemático. Esse planejamento deve incluir:

  • Definição dos objetivos gerais e específicos do serviço
  • Temas mensais a serem trabalhados
  • Metodologias participativas
  • Integração com o PAIF e outros serviços
  • Calendário com datas comemorativas, campanhas e eventos comunitários
  • Recursos necessários (financeiros, materiais e humanos) 
  1. Organização dos grupos para as atividades

Os grupos devem ser formados com base em ciclos de vida, conforme orientações do SUAS:

  • Crianças (6 a 15 anos)
  • Adolescentes (15 a 17 anos)
  • Jovens (18 a 29 anos)
  • Adultos e pessoas idosas

A metodologia, os temas e a abordagem devem respeitar as especificidades de cada grupo.

  1. Metodologia dos encontros

Os encontros devem ser espaços de escuta, expressão e construção coletiva. Para isso:

  • Use rodas de conversa, oficinas criativas, dinâmicas, jogos, teatro, música, entre outras linguagens acessíveis e envolventes
  • Estimule o protagonismo dos participantes
  • Trabalhe temas como: autoestima, cidadania, diversidade, enfrentamento de violências, cultura local, projeto de vida, dentre outros que possam promover o desenvolvimento dos usuários.
  1. Organização prática
  • Frequência: os encontros devem ser uma ação continuada. Elabore um calendário com a periodicidade dos encontros e o tempo de duração. Exemplo: dois encontros por semana, com duração entre 1h30 e 2h. Assim você garante que as ações não se percam e sejam efetivas
  • Espaço: eleja um local adequado, seguro, com materiais disponíveis para a realização dos encontros
  • Registros: não deixe de documentar os encontros para poder realizar monitoramento e avaliação das ações. Elabore documentos como ficha de presença, relatórios mensais, e diários de bordo.
  • Equipe: garanta que a equipe seja composta por profissionais capacitados e que esses estejam em um número adequado para a realização dos encontros, contando com educadores sociais e com a equipe técnica de referência

O que não pode faltar nos encontros do SCFV?

  • Intencionalidade: os encontros precisam ter um propósito claro e alinhado aos eixos do serviço.
  • Participação e Escuta ativa: os participantes devem ser ouvidos e considerados no planejamento. Estimule a participação ativa dos usuários em todas as etapas do encontro, desde a escolha das atividades até a avaliação do encontro.
  • Acompanhamento: Realize um acompanhamento individualizado dos participantes, observando seu desenvolvimento e suas necessidades, e oferecendo apoio quando necessário.
  • Comunicação: utilize diferentes formas de comunicação para divulgar as atividades do SCFV, garantir a presença dos participantes e a participação da comunidade.
  • Integração com a rede: o SCFV não atua isoladamente. Ele deve estar articulado com o PAIF, com escolas, saúde, cultura e outras políticas públicas.
  • Avaliação constante: monitore os avanços, escute os usuários, revise estratégias.

Conclusão

O SCFV é uma ação estratégica para a prevenção de situações de risco social e para a promoção de uma vida mais digna e participativa. Quando bem estruturado, ele transforma realidades, amplia horizontes e fortalece sujeitos.

Como profissional da PSB, sua atuação no SCFV deve estar alicerçada nos princípios do SUAS, nas diretrizes do serviço e, sobretudo, no compromisso com os sujeitos que constroem, cotidianamente, novos caminhos de convivência, cidadania e pertencimento.

Referências

Brasil, Secretaria Nacional de Assistência Social. Caderno de Orientações Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Brasília, 2016. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/cadernos/Cartilha_PAIF_1605.pdf

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