Tempo de leitura: 5 minutos
Por Eugene Francklin
A entrevista social é uma das ferramentas mais importantes no cotidiano de trabalho das e dos assistentes sociais que atuam no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Mas afinal, o que ela é de fato? Como aplicá-la de forma ética, acolhedora e eficiente? Neste texto, vamos conversar sobre o conceito, a importância e um passo a passo prático para quem atua na linha de frente da política de Assistência Social.
O que é entrevista social?
Mais do que um simples levantamento de dados, a entrevista social é um instrumento técnico-operativo de escuta qualificada que possibilita conhecer a realidade social, econômica e familiar dos usuários e usuárias do SUAS. Trata-se de uma ferramenta que permite compreender situações de vulnerabilidade e risco social, subsidiando o planejamento de intervenções, encaminhamentos e acompanhamentos socioassistenciais.
Ela pode resultar em registros em prontuário, relatórios sociais, pareceres técnicos e planos de acompanhamento familiar, sempre com base em princípios éticos e no compromisso com os direitos socioassistenciais.
Por que a entrevista social é importante?
No SUAS, lidamos com histórias de vida complexas, desiguais e muitas vezes atravessadas por múltiplas violações de direitos. Nesse cenário, entrevista social realizada de forma ética:
- Permite uma escuta sensível das demandas apresentadas.
- Dá base para a tomada de decisões mais justas e contextualizadas, sem achismos ou julgamentos morais;
- Contribui para o planejamento de ações e acompanhamentos personalizados;
- Garante que os usuários sejam atendidos como sujeitos de direitos, não como números ou meros beneficiários;
- Evita julgamentos moralizantes e atua com base em análise crítica e profissional.
Quando aplicar a entrevista social?
A entrevista social pode (e deve) ser utilizada em diversos momentos da atuação no SUAS:
- No acolhimento inicial no CRAS ou CREAS;
- Durante o acompanhamento familiar (no PAIF ou PAEFI);
- Na análise de concessão de benefícios eventuais;
- Como base para relatórios técnicos solicitados pelo Judiciário ou outras políticas públicas;
- Em visitas domiciliares, para aprofundar a compreensão da realidade da família;
- Sempre que necessário compreender melhor as condições e necessidades de vida da pessoa ou família.
Passo a passo para realizar uma entrevista social
Abaixo, compartilhamos um roteiro básico para orientar profissionais, especialmente os que estão iniciando na gestão ou na execução direta de serviços:
-
Preparação
- Consulte registros anteriores da família/usuário (prontuário, CadÚnico, relatórios).
- Reflita sobre o objetivo da entrevista (ex: concessão de benefício, inserção em serviço, relatório técnico).
- Garanta um ambiente adequado: reservado, acolhedor e sem interrupções.
- Esteja emocionalmente disponível para escutar com empatia e sem julgamentos.
-
Acolhimento e apresentação
- Apresente-se e explique o objetivo da conversa;
- Tranquilize sobre a confidencialidade das informações;
- Estabeleça uma relação de respeito e confiança.
- Estimule o diálogo com perguntas abertas, mostrando interesse genuíno.
-
Coleta de informações
Organize o diálogo com perguntas abertas e empáticas. Explore aspectos importantes como:
🔹 Identificação e composição familiar
- Quem mora com você?
- Qual o vínculo entre os membros da família?
🔹 Condições de moradia
- Como é a casa? Possui saneamento, energia, móveis básicos?
- Há risco estrutural ou situação de aluguel/despejo?
🔹 Situação de renda e trabalho
- Há pessoas trabalhando? Com carteira assinada? Autônomos?
- A renda é suficiente para cobrir as despesas?
🔹 Acesso a políticas públicas
- Estão cadastrados no CadÚnico? Recebem Bolsa Família?
- Crianças estão na escola? Há acompanhamento de saúde?
🔹 Vínculos e rede de apoio
- Têm com quem contar em situações difíceis?
- Participam de alguma atividade social, religiosa ou comunitária?
🔹 Demandas e situações de risco
- A família passa por violências? Há uso de álcool/drogas?
- Algum membro com deficiência, transtorno ou doença grave?
-
Fechamento e orientações
- Comunique à pessoa o que será feito após a entrevista (encaminhamentos, nova escuta, visita etc.).
- Oriente de forma acessível sobre direitos, serviços e fluxos.
- Encerre com escuta aberta, demonstrando disponibilidade e respeito.
-
Análise e sistematizações das informações
Após a entrevista:
- Reflita sobre os fatores de vulnerabilidade e proteção
- Identifique potencialidades da pessoa ou família.
- Avalie a necessidade de encaminhamentos, inserção em serviços ou benefícios.
- Registre as informações de forma ética, clara e objetiva no prontuário ou relatório.
Leia também: Passo a passo para conhecer o território de atuação da Assistência Social

Para além do protocolo: uma escuta ética e humana
A entrevista social não é uma mera formalidade, um interrogatório, mas sim uma construção conjunta de sentido. Ela é, antes de tudo, um ato profissional comprometido com a transformação social, que respeita o tempo, a história e a dignidade das pessoas atendidas.
A entrevista social é um instrumento fundamental para garantir que os usuários do SUAS tenham acesso aos seus direitos e serviços de forma adequada. Ela também fortalece o vínculo entre o usuário e o assistente social, criando um ambiente de confiança e colaboração.
Por isso, é essencial que essa escuta seja realizada com empatia, sem pressa, sem julgamentos morais e com total atenção à singularidade de cada família ou indivíduo.
Leia também: Bolsa Família e Cadastro Único: o que muda com a nova resolução CNAS nº202/2025?