Planejamento na Assistência Social – Por que planejar as ações?

Planejamento na Assistência Social – Por que planejar as ações?

Tempo de leitura: 7 minutos

O planejamento na Assistência Social representa um esforço dirigido que produz decisões e ações que garantem o atendimento às necessidades básicas – materiais e relacionais – dos cidadãos. Ele encurta o caminho, abrevia o tempo, diminui o desgaste e o stress dos gestores e trabalhadores do SUAS. Auxilia gestores e trabalhadores a ultrapassar as práticas assistencialistas, imediatistas. Já que induz a execução de ações preventivas e proativas, impactando na quantidade e intensidade das situações de risco e vulnerabilidade.

O que é planejar

Planejar é o ato de organizar um plano para alcançar um determinado objetivo. Podemos planejar mentalmente, sobretudo se isso não envolver muita complexidade. Porém, a maioria de nossas tarefas, mesmo as pessoais e cotidianas, exigem planejamento por escrito. De outra maneira poderíamos esquecer atividades ou ações que comprometeriam os resultados desejados ou esperados.

O planejamento é diferente de apenas listar ações, atividades e tarefas a cumprir. O ato de planejar envolve termos um objetivo claro e definido que queremos alcançar. E para isso nos propomos metas e prazos que cumpriremos e que concorrerão para atingirmos nosso objetivo. Quando esse objetivo é muito geral, podemos dividi-los em alguns objetivos específicos que nos auxiliarão a alcançar nosso objetivo maior.

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A importância do planejamento na prática

Pense numa questão do seu cotidiano. Por exemplo: você quer realizar uma festa. Para isso, você terá que programar, planejar várias ações e tarefas. Escolher o local, verificar quanto custa, definir quando etc.  Para a realização dessa festa, você deverá pensar em diversas ações e questões. Poderá iniciar o planejamento da sua festa pensando:

  1. O que? Que tipo de festa?
  2. Quando? Data, horário.
  3. Onde?
  4. Para quem? Convidados
  5. Quantos?
  6. Quais são os recursos financeiros que preciso?
  7. Quais são os demais recursos? Comidas e bebidas, som, mesas cadeiras, convites etc.
  8. Quanto tenho de recurso financeiro disponível?
  9. Alguém pode me ajudar ou organizarei sozinho?
  10. O que preciso fazer e em que prazo?

Por que e pra que planejar

Você pode estar pensando também que é possível realizar uma festa sem planejamento. Apenas fazendo e improvisando. E a resposta é sim. Mas, você não terá uma perspectiva clara do que precisa ser feito. Ou seja, dos objetivos a serem alcançados. Poderá por exemplo ter mais convidados do que comida! Entre outras coisas que podem gerar bastante desgaste e estresse. E pior, pode não chegar a concretizar a festa. Ficar no âmbito das ideias.

Perceba que ao decidir realizar uma festa você definiu seu objetivo. As demais questões se referem à local, prazos, responsabilidades, público alvo, recursos necessários e disponíveis.  Sua meta é que sua festa seja um sucesso e/ou de que muitos convidados compareçam e todos se divirtam. Para isso, você precisará tomar decisões baseado nas condições que você tem, nos recursos que dispõe´(diagnostico). E à partir disso, planejar cada tarefa a ser realizada. Reservando um tempo para a realização de cada atividade. E só depois passar para outra tarefa ou etapa. Assim, na data da festa tudo estará pronto e você poderá se divertir junto com seus convidados.

Imprevistos poderão acontecer mesmo assim. No entanto, você terá muito mais chances de contorná-los, caso ocorram. E até de prevê-los e já preparar um “plano B” para solucioná-los.

Portanto, investir um tempo no planejamento de qualquer ação ou atividade é a melhor maneira de “ganhar” tempo. Ou melhor, de não perder tempo. E ainda, de diminuir o estresse e obter a satisfação de um objetivo alcançado.

O que antecede o ato de planejar

Antes do planejamento, propriamente dito, no âmbito da Assistência Social, é recomendável que você entenda os principais conceitos da Assistência Social. Construir junto com as equipes de referência o entendimento sobre os objetivos da Assistência Social, suas diretrizes. Quais são os princípios éticos dos trabalhadores, o que é atendimento, acompanhamento, oficinas. O que entende-se por vulnerabilidade e risco, negligência, abandono etc.

Esse alinhamento, essa construção coletiva de conceitos vai permitir que de fato exista um olhar comum e um alargamento desse olhar sobre a realidade social. E também sobre as metodologias e orientações técnicas. Ou seja, todos partem do mesmo ponto rumo aos mesmos objetivos. Permitindo assim que a equipe possa planejar ações mais efetivas.

É importante ter em mente, também,  que o planejamento se inicia com uma boa “fotografia” do cenário e do momento. Um olhar aprofundado sobre essa “fotografia” lhe trará dados, informações e  os elementos necessários para entender a situação, o contexto.

Portanto, um bom planejamento começa com um bom Diagnóstico Socioterritorial. O diagnóstico vai permitir que você conheça as demandas, o território, os usuários. E assim, vai poder planejar ações preventivas, proativas e de proteção social. Quanto mais detalhado o diagnóstico mais chances de você tomar decisões e planejar ações que atenderão as especificidades dos territórios e dos usuários. Um bom diagnóstico amplia o nosso olhar e nos permite direcionar ou redirecionar o nosso fazer profissional.

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Outras contribuições do planejamento

Você já deve ter escutado ou lido essa frase. A Assistência Social não tem cultura de planejamento. Vale lembrar que a Assistência Social foi elevada à categoria de política pública, apenas na Constituição Federal de 1988. Dever do Estado e direito do cidadão. Antes disso, a oferta da Assistência Social estava pautada no assistencialismo e no clientelismo. Confundida com caridade, ajuda, favor. Com ações pontuais, descontinuadas e desarticuladas.

Em 1993, ela foi normatizada. A Lei nº 8742 estabeleceu as bases para a organização da Assistência Social. E em 2004, com a publicação da Política Nacional de Assistência Social a sua oferta foi redesenhada. E as normas para a sua operacionalização na forma de um Sistema único foram estabelecidas.

Sendo assim, a sua profissionalização e a sua oferta enquanto direito trouxeram uma nova lógica. Uma nova perspectiva: a oferta planejada e continuada das ações. A articulação e a intersetorialidade das ações como premissa. Focadas no acompanhamento familiar.

Para concretizar essa lógica o planejamento a partir de um diagnóstico, o monitoramento e avaliação das ações é imprescindível. Sem ele permanecemos no assistencialismo com suas práticas imediatistas e com pouco impacto na vida dos usuários. O planejamento, portanto, permite consolidar o SUAS, ultrapassando as históricas práticas assistencialistas.

O planejamento pode auxiliar a prever e até evitar situações emergenciais que acabam tendo necessidade de intervenções imediatistas. Sem objetividade e muitas vezes paliativas. Ele portanto, pode contribuir para diminuir as situações que geram grande desgaste e levam  à sensação de sobrecarga de trabalho e/ou de insatisfação tanto para o cidadão, quanto para as equipes profissionais.

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Conclusão

Em se tratando de política pública, dever do Estado e direito do cidadão, o planejamento das ações na Assistência Social não é apenas importante. É imprescindível, na medida em que, a administração pública tem o dever de ofertar com eficácia e eficiência ações que garantam a Assistência Social enquanto direito. Nesse sentido, conhecer as demandas e necessidades da população, traçar metas para atende-las é um compromisso a ser assumido.

Elaborar um planejamento, ainda que simplificado torna mais efetiva as chances de alcançarmos os objetivos da Assistência Social. Planejar diminui também o impacto inesperado de acontecimentos do cotidiano. Ou seja,  com um bom planejamento podemos tomar ações proativas e preventivas. Deixando pra trás aquela sensação cotidiana de estarmos apagando incêndios. De atuarmos de forma reativa, como se tudo fosse emergencial e não pudesse ser previsto e planejado.

O planejamento nos aproxima da oferta da Assistência Social na lógica do direito, e nos distancia de práticas assistencialistas, isoladas, emergenciais.

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