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O planejamento na Assistência Social representa um esforço dirigido que produz decisões e ações que garantem o atendimento às necessidades básicas – materiais e relacionais – dos cidadãos. Ele encurta o caminho, abrevia o tempo, diminui o desgaste e o stress dos gestores e trabalhadores do SUAS. Auxilia gestores e trabalhadores a ultrapassar as práticas assistencialistas, imediatistas. Já que induz a execução de ações preventivas e proativas, impactando na quantidade e intensidade das situações de risco e vulnerabilidade.
O que é planejar
Planejar é o ato de organizar um plano para alcançar um determinado objetivo. Podemos planejar mentalmente, sobretudo se isso não envolver muita complexidade. Porém, a maioria de nossas tarefas, mesmo as pessoais e cotidianas, exigem planejamento por escrito. De outra maneira poderíamos esquecer atividades ou ações que comprometeriam os resultados desejados ou esperados.
O planejamento é diferente de apenas listar ações, atividades e tarefas a cumprir. O ato de planejar envolve termos um objetivo claro e definido que queremos alcançar. E para isso nos propomos metas e prazos que cumpriremos e que concorrerão para atingirmos nosso objetivo. Quando esse objetivo é muito geral, podemos dividi-los em alguns objetivos específicos que nos auxiliarão a alcançar nosso objetivo maior.
A importância do planejamento na prática
Pense numa questão do seu cotidiano. Por exemplo: você quer realizar uma festa. Para isso, você terá que programar, planejar várias ações e tarefas. Escolher o local, verificar quanto custa, definir quando etc. Para a realização dessa festa, você deverá pensar em diversas ações e questões. Poderá iniciar o planejamento da sua festa pensando:
- O que? Que tipo de festa?
- Quando? Data, horário.
- Onde?
- Para quem? Convidados
- Quantos?
- Quais são os recursos financeiros que preciso?
- Quais são os demais recursos? Comidas e bebidas, som, mesas cadeiras, convites etc.
- Quanto tenho de recurso financeiro disponível?
- Alguém pode me ajudar ou organizarei sozinho?
- O que preciso fazer e em que prazo?
Por que e pra que planejar
Você pode estar pensando também que é possível realizar uma festa sem planejamento. Apenas fazendo e improvisando. E a resposta é sim. Mas, você não terá uma perspectiva clara do que precisa ser feito. Ou seja, dos objetivos a serem alcançados. Poderá por exemplo ter mais convidados do que comida! Entre outras coisas que podem gerar bastante desgaste e estresse. E pior, pode não chegar a concretizar a festa. Ficar no âmbito das ideias.
Perceba que ao decidir realizar uma festa você definiu seu objetivo. As demais questões se referem à local, prazos, responsabilidades, público alvo, recursos necessários e disponíveis. Sua meta é que sua festa seja um sucesso e/ou de que muitos convidados compareçam e todos se divirtam. Para isso, você precisará tomar decisões baseado nas condições que você tem, nos recursos que dispõe´(diagnostico). E à partir disso, planejar cada tarefa a ser realizada. Reservando um tempo para a realização de cada atividade. E só depois passar para outra tarefa ou etapa. Assim, na data da festa tudo estará pronto e você poderá se divertir junto com seus convidados.
Imprevistos poderão acontecer mesmo assim. No entanto, você terá muito mais chances de contorná-los, caso ocorram. E até de prevê-los e já preparar um “plano B” para solucioná-los.
Portanto, investir um tempo no planejamento de qualquer ação ou atividade é a melhor maneira de “ganhar” tempo. Ou melhor, de não perder tempo. E ainda, de diminuir o estresse e obter a satisfação de um objetivo alcançado.
O que antecede o ato de planejar
Antes do planejamento, propriamente dito, no âmbito da Assistência Social, é recomendável que você entenda os principais conceitos da Assistência Social. Construir junto com as equipes de referência o entendimento sobre os objetivos da Assistência Social, suas diretrizes. Quais são os princípios éticos dos trabalhadores, o que é atendimento, acompanhamento, oficinas. O que entende-se por vulnerabilidade e risco, negligência, abandono etc.
Esse alinhamento, essa construção coletiva de conceitos vai permitir que de fato exista um olhar comum e um alargamento desse olhar sobre a realidade social. E também sobre as metodologias e orientações técnicas. Ou seja, todos partem do mesmo ponto rumo aos mesmos objetivos. Permitindo assim que a equipe possa planejar ações mais efetivas.
É importante ter em mente, também, que o planejamento se inicia com uma boa “fotografia” do cenário e do momento. Um olhar aprofundado sobre essa “fotografia” lhe trará dados, informações e os elementos necessários para entender a situação, o contexto.
Portanto, um bom planejamento começa com um bom Diagnóstico Socioterritorial. O diagnóstico vai permitir que você conheça as demandas, o território, os usuários. E assim, vai poder planejar ações preventivas, proativas e de proteção social. Quanto mais detalhado o diagnóstico mais chances de você tomar decisões e planejar ações que atenderão as especificidades dos territórios e dos usuários. Um bom diagnóstico amplia o nosso olhar e nos permite direcionar ou redirecionar o nosso fazer profissional.
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Outras contribuições do planejamento
Você já deve ter escutado ou lido essa frase. A Assistência Social não tem cultura de planejamento. Vale lembrar que a Assistência Social foi elevada à categoria de política pública, apenas na Constituição Federal de 1988. Dever do Estado e direito do cidadão. Antes disso, a oferta da Assistência Social estava pautada no assistencialismo e no clientelismo. Confundida com caridade, ajuda, favor. Com ações pontuais, descontinuadas e desarticuladas.
Em 1993, ela foi normatizada. A Lei nº 8742 estabeleceu as bases para a organização da Assistência Social. E em 2004, com a publicação da Política Nacional de Assistência Social a sua oferta foi redesenhada. E as normas para a sua operacionalização na forma de um Sistema único foram estabelecidas.
Sendo assim, a sua profissionalização e a sua oferta enquanto direito trouxeram uma nova lógica. Uma nova perspectiva: a oferta planejada e continuada das ações. A articulação e a intersetorialidade das ações como premissa. Focadas no acompanhamento familiar.
Para concretizar essa lógica o planejamento a partir de um diagnóstico, o monitoramento e avaliação das ações é imprescindível. Sem ele permanecemos no assistencialismo com suas práticas imediatistas e com pouco impacto na vida dos usuários. O planejamento, portanto, permite consolidar o SUAS, ultrapassando as históricas práticas assistencialistas.
O planejamento pode auxiliar a prever e até evitar situações emergenciais que acabam tendo necessidade de intervenções imediatistas. Sem objetividade e muitas vezes paliativas. Ele portanto, pode contribuir para diminuir as situações que geram grande desgaste e levam à sensação de sobrecarga de trabalho e/ou de insatisfação tanto para o cidadão, quanto para as equipes profissionais.
Conclusão
Em se tratando de política pública, dever do Estado e direito do cidadão, o planejamento das ações na Assistência Social não é apenas importante. É imprescindível, na medida em que, a administração pública tem o dever de ofertar com eficácia e eficiência ações que garantam a Assistência Social enquanto direito. Nesse sentido, conhecer as demandas e necessidades da população, traçar metas para atende-las é um compromisso a ser assumido.
Elaborar um planejamento, ainda que simplificado torna mais efetiva as chances de alcançarmos os objetivos da Assistência Social. Planejar diminui também o impacto inesperado de acontecimentos do cotidiano. Ou seja, com um bom planejamento podemos tomar ações proativas e preventivas. Deixando pra trás aquela sensação cotidiana de estarmos apagando incêndios. De atuarmos de forma reativa, como se tudo fosse emergencial e não pudesse ser previsto e planejado.
O planejamento nos aproxima da oferta da Assistência Social na lógica do direito, e nos distancia de práticas assistencialistas, isoladas, emergenciais.
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