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Por Eugene Francklin
No dia a dia da gestão e da execução dos serviços socioassistenciais, são muitos os desafios para garantir que as pessoas em situação de vulnerabilidade tenham acesso aos seus direitos. Um dos maiores é chegar até quem mais precisa, mas não procura o CRAS ou o CREAS por desconhecimento, medo ou dificuldade de acesso. E é aí que entra uma ferramenta fundamental para mitigar esse problema: a busca ativa.
O que é a busca ativa?
A busca ativa é uma estratégia proativa do SUAS, voltada para identificar e alcançar pessoas e famílias em situação de risco ou vulnerabilidade que não acessam espontaneamente os serviços da Assistência Social.
Ao invés de esperar que a população procure os equipamentos, a equipe vai ao território, conhece a realidade local e acolhe de forma qualificada aqueles que estão “invisíveis” para as políticas públicas.
🎯 Por que a busca ativa é tão importante?
A busca ativa fortalece o princípio da universalização do acesso aos direitos sociais e da proteção social não contributiva. Ela é essencial para:
- Reduzir desigualdades territoriais e sociais;
- Prevenir agravamentos de situações de vulnerabilidade;
- Garantir que mais famílias sejam cadastradas e acompanhadas;
- Identificação de famílias pertencentes a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos (GPTE).
- Fortalecer a articulação com outras políticas públicas.
Em contextos de pobreza extrema, violência, abandono, evasão escolar, entre outros, a busca ativa pode ser a única porta de entrada para a proteção social.
Como realizar uma busca ativa no seu território?
Para que a ação seja eficaz, não basta sair batendo de porta em porta. É preciso planejamento, estratégia e sensibilidade. Veja o passo a passo para te ajudar a organizar a ação de busca ativa no seu município:
1. Levantamento e Diagnóstico do Território
Objetivo: Conhecer o território para identificar áreas e públicos prioritários.
Como fazer:
- Acesse e analise dados do Cadastro Único, IBGE, CREAS, denúncias espontâneas e conselhos.
- Georrefencie seu território para visualizar locais onde há grande incidências de vulnerabilidades, regiões rurais, áreas periféricas e comunidades com pouca presença do poder público.
- Converse com escolas, UBS, lideranças locais, conselhos comunitários, agentes de saúde, agentes de endemias, pastorais, etc.
🎯 Resultado esperado: Com os dados obtidos, elabore uma lista com as localidades ou bairros prioritários, indicando o perfil das vulnerabilidades locais.
2. Definição do Público-Alvo e Foco da Ação
Objetivo: Determinar quem será buscado e por quê.
Exemplos de públicos prioritários:
- Famílias não cadastradas no CadÚnico;
- Crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, evasão escolar ou negligência;
- Idosos(as) isolados, em abandono ou maus-tratos;
- Pessoas com deficiência sem acesso a serviços;
- Famílias com perfil para o Bolsa Família, BPC, SCFV ou PAEFI;
- Pessoas em situação de rua;
- Vítimas de desastres ou calamidades públicas.
✅ Dica: Defina prioridades com base na capacidade de resposta da equipe e no nível de urgência das situações.
3. Planejamento da Ação
Objetivo: Organizar a execução da busca ativa de forma segura, ética e eficiente.
Etapas:
- Definir equipe técnica: assistente social, psicólogo(a), entrevistadores sociais ou equipe volante.
- Escolher dias, horários e frequência das visitas.
- Estabelecer protocolos de segurança: crachá de identificação, comunicação com sede do CRAS/CREAS, uso de EPIs se necessário.
- Preparar materiais: fichas de registro, termos de consentimento, formulário de observação, panfletos informativos sobre os serviços do SUAS no município.
- Elaborar um roteiro de abordagem com perguntas e orientações.
🤝 Parcerias importantes:
- Saúde;
- Escolas;
- Conselho Tutelar;
- Lideranças comunitárias;
- Defesa Civil (em casos de emergência).
4. Abordagem no Território
Objetivo: Realizar a escuta qualificada e o acolhimento das famílias com ética e sensibilidade.
Boas práticas:
- Apresente-se com nome, função e objetivo da visita.
- Respeite a privacidade e os limites da família.
- Ouça com atenção e sem julgamentos.
- Utilize linguagem simples e acessível.
- Explique os serviços ofertados pelo CRAS, CREAS e a importância do CadÚnico.
- Em casos urgentes (violência, negligência), acione os serviços competentes (CREAS, Conselho Tutelar, MP, etc.).
⚠️ Importante:
- Jamais exponha a família na comunidade.
- Não faça promessas irreais.
- Priorize a escuta e a construção de vínculo.
5. Registro, Encaminhamentos e Atendimento
Objetivo: Formalizar a visita e garantir o acesso da família aos serviços necessários.
O que fazer:
- Registre a visita no Prontuário SUAS ou em fichas próprias.
- Encaminhe a família para:
- Cadastro ou atualização no CadÚnico;
- Inserção no PAIF, PAEFI ou SCFV;
- Acesso a benefícios (Bolsa Família, BPC, cestas, etc.);
- Outros serviços públicos (saúde, educação, habitação, etc.).
- Agende atendimentos no CRAS ou CREAS, se necessário.
⚠️ Atenção: Os dados coletados devem ser protegidos, em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
6. Acompanhamento Continuado
Objetivo: Garantir o acompanhamento social de casos que demandem atenção prolongada.
Como fazer:
- Identifique casos que devem ser acompanhados pelo PAIF ou PAEFI.
- Atualize os prontuários com as informações da busca ativa.
- Insira a família nas atividades dos serviços, grupos ou atendimentos individualizados.
- Reforce vínculos com a rede de proteção (saúde, educação, conselho tutelar, etc.).
- Reavalie a situação da família periodicamente.
7. Avaliação da Busca Ativa
Objetivo: Analisar os resultados e melhorar a estratégia.
Avalie:
- Quantas famílias foram visitadas?
- Quantas foram incluídas no CadÚnico?
- Quantos encaminhamentos foram feitos?
- Quantos acompanhamentos foram iniciados?
- Quais dificuldades e aprendizados surgiram?
✅ Realize reuniões com a equipe após cada ciclo de busca ativa para ajustar metodologias e identificar melhorias.
✨ Dica Final
A busca ativa deve ser institucionalizada no município como uma ação permanente, não apenas emergencial. Ela deve estar prevista no plano de trabalho do CRAS/CREAS e ser articulada com o planejamento da Secretaria de Assistência Social.
Considerações Finais
A busca ativa é mais do que uma técnica é uma postura proativa frente às desigualdades. Ela exige sensibilidade, organização e compromisso com a proteção social. Cada visita, cada escuta, cada família acolhida é um passo na construção de uma sociedade mais justa.
Você já realiza busca ativa no seu município? Como sua equipe tem se organizado para alcançar quem mais precisa? Compartilhe experiências e fortaleça essa rede de cuidado e proteção!
Leia também: Passo a passo para conhecer o território de atuação da Assistência Social
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Referências:
Brasil, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. RESOLUÇÃO CIT Nº 18, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2024. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cit-n-18-de-6-de-dezembro-de-2024-609771891
Brasil, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS DE AÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE BUSCA ATIVA
PREVISTA NO PROCAD-SUAS. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/pecas_publicitarias/cadastro_unico/GuiaBuscaAtivaPROCADSUAS.pdf