Como realizar busca ativa no meu município?

Tempo de leitura: 6 minutos

Por Eugene Francklin

No dia a dia da gestão e da execução dos serviços socioassistenciais, são muitos os desafios para garantir que as pessoas em situação de vulnerabilidade tenham acesso aos seus direitos. Um dos maiores é chegar até quem mais precisa, mas não procura o CRAS ou o CREAS por desconhecimento, medo ou dificuldade de acesso. E é aí que entra uma ferramenta fundamental para mitigar esse problema: a busca ativa.

O que é a busca ativa?

A busca ativa é uma estratégia proativa do SUAS, voltada para identificar e alcançar pessoas e famílias em situação de risco ou vulnerabilidade que não acessam espontaneamente os serviços da Assistência Social.

Ao invés de esperar que a população procure os equipamentos, a equipe vai ao território, conhece a realidade local e acolhe de forma qualificada aqueles que estão “invisíveis” para as políticas públicas.

🎯 Por que a busca ativa é tão importante?

A busca ativa fortalece o princípio da universalização do acesso aos direitos sociais e da proteção social não contributiva. Ela é essencial para:

  • Reduzir desigualdades territoriais e sociais;
  • Prevenir agravamentos de situações de vulnerabilidade;
  • Garantir que mais famílias sejam cadastradas e acompanhadas;
  • Identificação de famílias pertencentes a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos (GPTE).
  • Fortalecer a articulação com outras políticas públicas.

Em contextos de pobreza extrema, violência, abandono, evasão escolar, entre outros, a busca ativa pode ser a única porta de entrada para a proteção social.

Como realizar uma busca ativa no seu território?

Para que a ação seja eficaz, não basta sair batendo de porta em porta. É preciso planejamento, estratégia e sensibilidade. Veja o passo a passo para te ajudar a organizar a ação de busca ativa no seu município:

1. Levantamento e Diagnóstico do Território

Objetivo: Conhecer o território para identificar áreas e públicos prioritários.

Como fazer:

  • Acesse e analise dados do Cadastro Único, IBGE, CREAS, denúncias espontâneas e conselhos.
  • Georrefencie seu território para visualizar locais onde há grande incidências de vulnerabilidades, regiões rurais, áreas periféricas e comunidades com pouca presença do poder público.
  • Converse com escolas, UBS, lideranças locais, conselhos comunitários, agentes de saúde, agentes de endemias, pastorais, etc.

🎯 Resultado esperado: Com os dados obtidos, elabore uma lista com as localidades ou bairros prioritários, indicando o perfil das vulnerabilidades locais.

2. Definição do Público-Alvo e Foco da Ação

Objetivo: Determinar quem será buscado e por quê.

Exemplos de públicos prioritários:

  • Famílias não cadastradas no CadÚnico;
  • Crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, evasão escolar ou negligência;
  • Idosos(as) isolados, em abandono ou maus-tratos;
  • Pessoas com deficiência sem acesso a serviços;
  • Famílias com perfil para o Bolsa Família, BPC, SCFV ou PAEFI;
  • Pessoas em situação de rua;
  • Vítimas de desastres ou calamidades públicas.

Dica: Defina prioridades com base na capacidade de resposta da equipe e no nível de urgência das situações.

3. Planejamento da Ação

Objetivo: Organizar a execução da busca ativa de forma segura, ética e eficiente.

Etapas:

  • Definir equipe técnica: assistente social, psicólogo(a), entrevistadores sociais ou equipe volante.
  • Escolher dias, horários e frequência das visitas.
  • Estabelecer protocolos de segurança: crachá de identificação, comunicação com sede do CRAS/CREAS, uso de EPIs se necessário.
  • Preparar materiais: fichas de registro, termos de consentimento, formulário de observação, panfletos informativos sobre os serviços do SUAS no município.
  • Elaborar um roteiro de abordagem com perguntas e orientações.

🤝 Parcerias importantes:

  • Saúde;
  • Escolas;
  • Conselho Tutelar;
  • Lideranças comunitárias;
  • Defesa Civil (em casos de emergência).

4. Abordagem no Território

Objetivo: Realizar a escuta qualificada e o acolhimento das famílias com ética e sensibilidade.

Boas práticas:

  • Apresente-se com nome, função e objetivo da visita.
  • Respeite a privacidade e os limites da família.
  • Ouça com atenção e sem julgamentos.
  • Utilize linguagem simples e acessível.
  • Explique os serviços ofertados pelo CRAS, CREAS e a importância do CadÚnico.
  • Em casos urgentes (violência, negligência), acione os serviços competentes (CREAS, Conselho Tutelar, MP, etc.).

⚠️ Importante:

  • Jamais exponha a família na comunidade.
  • Não faça promessas irreais.
  • Priorize a escuta e a construção de vínculo.

5. Registro, Encaminhamentos e Atendimento

Objetivo: Formalizar a visita e garantir o acesso da família aos serviços necessários.

O que fazer:

  • Registre a visita no Prontuário SUAS ou em fichas próprias.
  • Encaminhe a família para:
    • Cadastro ou atualização no CadÚnico;
    • Inserção no PAIF, PAEFI ou SCFV;
    • Acesso a benefícios (Bolsa Família, BPC, cestas, etc.);
    • Outros serviços públicos (saúde, educação, habitação, etc.).
  • Agende atendimentos no CRAS ou CREAS, se necessário.

⚠️ Atenção: Os dados coletados devem ser protegidos, em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

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6. Acompanhamento Continuado

Objetivo: Garantir o acompanhamento social de casos que demandem atenção prolongada.

Como fazer:

  • Identifique casos que devem ser acompanhados pelo PAIF ou PAEFI.
  • Atualize os prontuários com as informações da busca ativa.
  • Insira a família nas atividades dos serviços, grupos ou atendimentos individualizados.
  • Reforce vínculos com a rede de proteção (saúde, educação, conselho tutelar, etc.).
  • Reavalie a situação da família periodicamente.

7. Avaliação da Busca Ativa

Objetivo: Analisar os resultados e melhorar a estratégia.

Avalie:

  • Quantas famílias foram visitadas?
  • Quantas foram incluídas no CadÚnico?
  • Quantos encaminhamentos foram feitos?
  • Quantos acompanhamentos foram iniciados?
  • Quais dificuldades e aprendizados surgiram?

✅ Realize reuniões com a equipe após cada ciclo de busca ativa para ajustar metodologias e identificar melhorias.

Dica Final

A busca ativa deve ser institucionalizada no município como uma ação permanente, não apenas emergencial. Ela deve estar prevista no plano de trabalho do CRAS/CREAS e ser articulada com o planejamento da Secretaria de Assistência Social.

Considerações Finais

A busca ativa é mais do que uma técnica é uma postura proativa frente às desigualdades. Ela exige sensibilidade, organização e compromisso com a proteção social. Cada visita, cada escuta, cada família acolhida é um passo na construção de uma sociedade mais justa.

Você já realiza busca ativa no seu município? Como sua equipe tem se organizado para alcançar quem mais precisa? Compartilhe experiências e fortaleça essa rede de cuidado e proteção!

Leia também: Passo a passo para conhecer o território de atuação da Assistência Social
Entrevista Social no SUAS: o que é, por que importa e como fazer?

Referências:

Brasil, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. RESOLUÇÃO CIT Nº 18, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2024. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cit-n-18-de-6-de-dezembro-de-2024-609771891

Brasil, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS DE AÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE BUSCA ATIVA
PREVISTA NO PROCAD-SUAS. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/pecas_publicitarias/cadastro_unico/GuiaBuscaAtivaPROCADSUAS.pdf

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